Cavalo Lusitano na Dressage: pontos fortes e pontos fracos

Fórum da raça

Moderador: Filipe Graciosa

Responder
Mensagem
Autor
Rodrigo Almeida
Espectador
Mensagens: 6
Registado: quinta dez 04, 2008 8:27 am

Cavalo Lusitano na Dressage: pontos fortes e pontos fracos

#1 Mensagem por Rodrigo Almeida » quinta dez 25, 2008 10:55 am

Desejo um bom Natal e excelentes perspectivas para 2009 a todos!

Aproveito para divulgar que acabei de publicar no meu blog um artigo muito interessante do Eng. António Vicente acerca do “Cavalo Lusitano na Dressage: pontos forte e pontos fracos”. Para além de Agrónomo e Mestre em Produção Animal, o Eng.º António Vicente acumula a função de juiz de dressage em Portugal.
ARTIGO DO ENG.º ANTÓNIO VICENTE

1. Índice de Imagens:
Fig 1 Nostrodamus do Top.jpg
Fig 1 Nostrodamus do Top.jpg (39.4 KiB) Visto 8673 vezes
Figura 1. Nostrodamus do top - polivalência da raça Lusitana. Cavalo de Toureio que concursou em Dreassage ao nível de Grande Prémio.
Fig 2 CONFORM3.gif
Fig 2 CONFORM3.gif (14.23 KiB) Visto 8679 vezes
Fig 3 Guizo exemplar notavel.jpg
Fig 3 Guizo exemplar notavel.jpg (45.11 KiB) Visto 8662 vezes
Fig 4 Spartacus.jpg
Fig 4 Spartacus.jpg (49.11 KiB) Visto 8660 vezes
2. Apresentação

A pedido do colega e amigo Rodrigo Almeida, resolvi escrever um breve artigo sobre “O cavalo Lusitano na modalidade de Dressage: Pontos fortes e pontos fracos”.

Este documento resulta de um trabalho apresentado no Fórum Dressage que decorreu na Feira Nacional do Cavalo de 2007 na Golegã denominado: “Morfologia e Andamentos do cavalo Lusitano na Dressage”.

O Cavalo Lusitano na Dressage: Pontos fortes e pontos fracos

Devemos, em primeiro lugar, começar por referir a enorme polivalência desta raça (Fig. 1) para as mais distintas modalidades desportivas e actividades equestres tais como: tauromaquia, atrelagem, equitação de trabalho, equitação à portuguesa, saltos de obstáculos, horseball, volteio clássico, CCE, TREC, arte equestre, trabalhos de campo, cinema, lazer, concursos de beleza e obviamente dressage. Como se pode constatar é um cavalo muito completo, não sendo um especialista em nenhuma actividade, à excepção, no nosso entender, da tauromaquia e equitação de trabalho onde é o melhor do mundo, mas apresenta-se bastante versátil nas restantes actividades.

Em relação à modalidade de dressage os principais aspectos a considerar relevantes para um bom exemplar na modalidade são a sua conformação/morfologia, os seus andamentos de base (passo, trote e galope) e ainda o seu temperamento e montabilidade.

No estudo da conformação (Fig. 2) é essencial a sua proporcionalidade e simetria de formas bem como a correcção de aprumos, fundamental para animais que queremos que apresentem elevadas longevidades desportivas e que consigam competir até idades avançadas. Para tal, um correcto posicionamento dos membros, raios articulares e proporcionalidade física é muito mais conservador a médio/longo prazo.

Para o caso dos andamentos de base é fundamental uma boa mecânica, com correcção, regularidade e amplitude. O temperamento revela-se de particular importância pois de que serve um cavalo muito bom fisicamente mas com “má cabeça” ou que não se deixe montar e daí também a sua relação com a montabilidade.

Necessitamos, em dressage, de um cavalo cooperante com o cavaleiro, trabalhador e bom a assimilar os ensinamentos que lhe vão sendo transmitidos para os poder executar de forma sublime quando lhes são pedidos em competição. Mais ainda e como diz o Mestre D. José d´Athayde “não me interessa nada ganhar nos níveis mais baixos da dressage (P, E, M, …). Nesses interessa-me ensinar o cavalo pois a mim interessa-me é ganhar o Grande Prémio (GP)”. Concordamos por completo pois em GP, sendo o grau de nível superior de dificuldade, é que conseguimos observar e concretizar a absorção da escala de treino de um cavalo bem ensinado. Desta forma é muito importante o temperamento e a montabilidade de um equino para permitir “deixar-se arranjar” até ao mais alto nível de competição.

Falando então dos pontos a favor do cavalo Lusitano começamos exactamente pelo seu temperamento e montabilidade. Neste ponto o “nosso cavalo” sempre demonstrou um comportamento notável. É um animal de sangue quente, um pouco ardente (no bom sentido), o que se revela importante para um cavalo de dressage. Deste modo poderá transmitir mais vibração tornando-se num ganhador. Esta característica é importante pois o cavalo Lusitano normalmente apresenta vontade de trabalhar e colabora com o cavaleiro não se apresentando muito “frio às ajudas” como acontece com alguns warmbloods, fundamental em GP ainda mais quando não podemos ter o auxílio do stick.

Para além disso, e como está bem patente no seu padrão da raça, é um animal caracterizador por ser de confiança, corajoso, nobre, dócil e também com vontade e moral. Tudo atributos muito importantes para triunfar numa modalidade tão competitiva como é o ensino de competição.

Outros aspectos favoráveis ao seu desempenho em dressage são a facilidade de concentração, com boa capacidade técnica de executar exercícios de elevado grau de dificuldade como são a passage, piaffer, piruetas a galopes (Fig. 3), … Deste modo o Lusitano é um cavalo que rapidamente consegue alterar o seu equilíbrio e centro de gravidade. De notar ainda a boa capacidade de execução técnica, com facilidade em conciliar e encadear exercícios de alto grau de dificuldade técnica, para além de uma rápida assimilação de conhecimentos. Isto leva-nos a deixar uma questão no ar. Serão os cavalos Lusitanos mais inteligentes que a generalidade dos equinos, fruto da sua evolução e selecção ao longo dos tempos?

Um outro ponto interessante de constatar é a sua altivez, beleza natural, elegância e presença em pista, para além da sua expressividade, muito importante num cavalo que é avaliado pelo aspecto geral e exterior da sua execução. A ajudar a este facto temos a utilização generalizada em competição de reprodutores inteiros, em especial garanhões (Fig. 4), de formas mais arredondadas e altivas, chegando mais ao público e, queremos nós querer, aos juízes da modalidade.

Devemos ainda considerar como aspectos positivos a boa flexibilidade lateral, isto é, a capacidade de realizar trabalhos em duas ou mais pistas, como são o caso dos ladeares, desde que consigam cobrir terreno (“groundcover”) o suficiente numa avaliação deste tipo.

Regra geral apresentam um bom equilíbrio natural a trote, mas em especial a galope, logo com uma boa base de trabalho desde que devidamente consolidada, dada a menor precocidade desta raça comparativamente às raças do norte da Europa. O cavalo Lusitano apresenta ainda uma enorme capacidade de evolução e potencial desde que aplicadas a metodologia e técnica equestres adequadas.

Não podemos ainda esquecer a importância que este tipo de cavalo poderá ter para a competição de dressage com jovens praticantes (todos os escalões de formação até Young Riders) dado ser um animal geralmente fácil de montar, não muito problemático nem perigoso mesmo que inteiro. Deste modo o cavalo Lusitano poderá ter um mercado importante como montada para jovens que debutem ou em escalões de formação em dressage.

Mas como “não há bela sem senão” temos também de referir alguns pontos fracos, ou talvez menos fortes que o Puro-sangue Lusitano apresenta. E começando pela morfologia será que a silhueta inscritível num quadrado como patente no padrão da raça é favorável? Usualmente os animais que tendem mais do mediolíneo para o longilíneo apresentam melhor performance e capacidade de deslocamento, flexibilidade longitudinal e groundcover logo aí o Lusitano poderá perder um pouco.

Um outro problema na morfologia é a qualidade dos membros, onde a raça apresenta algumas fragilidades, desaprumos e falta de poder de sustentação e propulsão. Isto facilmente pode ser comprovado pela elevada ponderação que é dada a este ponto nas grelhas de classificação em provas de modelo e andamentos ou de reprodutores. Assim sendo deve ser um parâmetro a melhor e a ter mais em mais em consideração ainda para mais, como já referido, de vital importância para a longevidade na competição.

Ainda no que diz respeito à conformação muitas vezes a frente dos equinos é demasiado pesada, com ligações muito espessas de cabeça – pescoço com perda de mobilidade e colocação e ainda pescoço curto levando a menor amplitude e flexibilidade de movimentos. Um aspecto relevante relativamente ao antemão do cavalo Lusitano é que muito dificilmente a nuca poderá ser o ponto mais alto da atitude do cavalo dada a acumulação de gordura e a morfologia do pescoço. Ainda bem que hoje em dia já vai havendo conhecimento técnico por parte dos juízes internacionais de dressage para compreenderem esse facto. Também relacionado com a atitude do cavalo, e se considerarmos um animal com um chanfro muito convexilíneo ou abaulado, comum nesta população, poderá induzir em erro na apreciação ao julgar-se que o animal está encapotado, mas isto se divagarmos um pouco.

Outra fragilidade na morfologia do cavalo Lusitano é a sua ligação dorso-rim, muitas vezes mal dirigida e com um comprimento e desenvolvimento muscular que podem limitar as capacidades propulsivas e a amplitude longitudinal. Em relação à garupa a falta de angularidade que apresentam muitos exemplares poderá limitar também a capacidade de cobrir terreno e o abaixamento das ancas. Um costado cilíndrico bem patente em muitos animais desta população poderá, também ele reduzir a flexibilidade geral do corpo, limitando a capacidade torácica e a vida útil do animal.

Em relação ao outro ponto essencial num cavalo de dressage, a qualidade de andamentos, o “nosso cavalo” apresenta alguma falta de amplitude e groundcover, em especial, a passo e nos andamentos largos, apresentando menor disponibilidade física que os warmbloods e algumas irregularidades e assimetrias fruto de uma estrutura desequilibrada, de um mau ensino de base, … Esta deficiência na qualidade de andamentos estará sempre correlacionada com a qualidade dos aprumos e morfologia.

Também relacionada com alguma falta de força poderá estar a capacidade de fixar a atitude, estável e alta durante toda uma prova de GP, dada a enorme pressão e exigência física requerida.

Alguns aspectos gerais que podemos referir e que poderão jogar contra o Lusitano são: i) alguma falta de dimensão e tamanho para “encher o rectângulo de ensino” e para suportar cavaleiros com alturas cada vez superiores ou ainda para cumprir trajectórias e exercícios solicitados com simetria; e ii) o lusitano é um cavalo menos precoce e com um tipo de maneio muitas vezes extensificado pelo que será necessária maior consolidação das bases e mais tempo para a fase inicial de socialização e domesticação. Terá alguma dificuldade em acompanhar e concursar com os warmbloods, em especial nas fases iniciais e nas provas de cavalos novos, que achamos serem totalmente desadequadas para o “nosso cavalo” e que poderão comprometer o seu futuro desportivo.

A terminar não podemos deixar de referir, na generalidade, a falta de cultura e técnica equestre dos diferentes agentes equestres envolvidos.

Como conclusão pensamos que o cavalo Lusitano apresenta boas potencialidades, com uma qualidade média bastante aceitável dado o reduzido número de exemplares quando comparado com outras raças como o PRE, Hanoveriano ou KWPN. No entanto será mais difícil conciliar a selecção mantendo as características tão específicas e únicas da raça e a sua aptidão funcional e especialização em dressage.

Teremos que nos preocupar também em melhorar a média da cultura e técnicas equestres em Portugal com utilização de metodologias de treino mas sistematizadas e correctas bem como melhorando o maneio dos animais, logo um longo caminho a percorrer mas com boas perspectivas.

António Pedro Andrade Vicente, Eng. Agrónomo – Mestre em Produção Animal
Para breve está a publicação de mais artigos dos seguintes autores: Sérgio Beck (Brasil), Francisco Cancella de Abreu e Bento Castelhano.

O debate de ideias acerca deste tema deve processar-se igualmente neste espaço (Cavalonet).

Qual a posição dos ilustres forenses acerca deste tema?

Cordialmente,
Rodrigo Almeida

CR
Iniciado
Mensagens: 21
Registado: quinta jan 17, 2008 10:28 am

Re: Cavalo Lusitano na Dressage: pontos fortes e pontos fracos

#2 Mensagem por CR » terça dez 30, 2008 8:47 pm

Correndo o risco de parecer o Velho do Restelo, penso que é fundamental distingir as evidentes fragilidades do cavalo lusitano que devem ser corrigidas, como é o caso da falta de qualidade dos membros, das características da raça que, não sendo absolutamente negativas, são desadequadas em relação às exigências da dressage, como é o caso da silhueta quadrangular.
Apesar de não ser muito entendida nestas coisas, parece-me que a dressage, principalmente nos níveis internacionais mais competitivos, está estruturada em função de um tipo de cavalo que difere substancialmente do lusitano, pelo que este estará necessariamente em desvantagem ao procurar competir em "território do inimigo".
Colocando de lado as conveniências económicas e desportivas e considerando apenas a qualidade intrinseca da raça, penso que seria interessante equacionar as vantagens que a dressage poderá trazer ao cavalo lusitano, quando se tenta adaptar este às suas exigências (e até onde devem ir estas tentativas).
Para mais, é pertinente considerar se a cultura e técnicas equestres que é necessário melhorar em Portugal não estarão também em falta ao nível da dressage internacional, a qual se debate com numerosas críticas devido ao recurso a técnicas potencialmente lesivas para o cavalo.
Resumindo e concluíndo, as exigências competitivas e seus derivados económicos poderão não ser os melhores conselheiros (ou pelo menos não deverão ser os únicos) quando se procuram definir critérios de qualidade e excelência.

Obrigado por este artigo tão interessante e informativo.

Rodrigo Almeida
Espectador
Mensagens: 6
Registado: quinta dez 04, 2008 8:27 am

Re: Cavalo Lusitano na Dressage: pontos fortes e pontos fracos

#3 Mensagem por Rodrigo Almeida » quarta dez 31, 2008 12:31 am

Caros forenses,

Para breve publicarei no Fórum Cavalonet o artigo do Sérgio Beck, intitulado “A originalidade do Lusitano e do Espanhol está nas belezas não convencionais”.

Cordialmente,
Rodrigo Almeda

O currículo do Sérgio é o seguinte:

- Licenciado em Biologia, com especialização em Zootecnica de Eqüinos, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

- Leciona no curso superior de Ciências Eqüinas na Universidade Católica do Paraná e na Universidade do Planalto Catarinense.

- Autor dos livros "EQÜINOS Raças Manejo Equitação" e "MANGALARGA MARCHADOR Caracterização História Seleção".

- Autor dos DVDs "Técnicas de Desbaste Racional" e "Arreamentos e Adestramento".

- Inspector técnico para registo genealógico do Lusitano e do Bretão nos Estados do Paraná e de Santa Catarina, Brasil.

- Em 2007 esteve em Portugal a ministrar curso de Desbaste Racional Etológico, promovido pela L. Conde Seleção e Reprodução Animal Lda, realizado na Coudelaria Ortigão Costa.

- É presidente do Conselho Técnico da Associação Brasileira de Turismo Eqüestre.

luis pedro
Mestre de Equitação
Mensagens: 1146
Registado: domingo mar 19, 2006 7:16 am

Re: Cavalo Lusitano na Dressage: pontos fortes e pontos fracos

#4 Mensagem por luis pedro » segunda jan 05, 2009 11:57 pm

Olá fórum, BOM 2009

É um bom artigo que "toca" uma serie de questões pertinentes, infelizmente, pouco debatidas (a qualidade dos cavalos e a do trabalho dos cavaleiros com vista a atingir o "topo").

Parabéns

luis pedro

horses_s
Sela 07 (estribo de prata)
Mensagens: 207
Registado: sexta set 29, 2006 6:17 pm
Localização: Leça da Palmeira - Porto

Re: Cavalo Lusitano na Dressage: pontos fortes e pontos fracos

#5 Mensagem por horses_s » sábado jan 10, 2009 9:50 pm

Na feira da Golega de 2007 assisti a um coloquio onde foi debatido este tema. É excelente poder analisa-lo melhor agora.
Muito obrigada pela publicação do artigo. É muito interessante.
Tudo é possível até se provar que é impossível e mesmo o impossível pode ser só por agora.

José Gabriel Calção
Iniciado
Mensagens: 10
Registado: quinta jan 22, 2004 10:46 pm

Re: Cavalo Lusitano na Dressage: pontos fortes e pontos fracos

#6 Mensagem por José Gabriel Calção » quinta jan 22, 2009 12:32 am

A Rodrigo Almeida

Prezado Sr. agradeço-lhe muito as ideias que tive o gosto de ler, assim como as que nos facultou do Sr. Eng. António Vicente, sobre as quais tive de imediato vontade de opinar em resposta a sua pergunta final, no entanto o meu tempo tem sido diminuto para o efeito alem de que fiquei na expectativa de outras opiniões habitualmente céleres, não se tendo verificado coloco a minha modesta opinião sobre um tema que merece o meu enorme interesse e que foi tão belamente desenvolvido pelo Sr. Eng. António Vicente a quem felicito por partilhar connosco tais conhecimentos :

Lusitano na dressage



O nosso cavalo não é um cavalo talhado para a dressage em nada se assemelha com as raças que hoje ganham os grandes prémios por esse mundo fora, sendo um cavalo peninsular é muito semelhante ao P.R.E. tendo sofrido a mesma mestiçagem apenas teve um critério de selecção diferente, dos poucos animais que sobreviveram à mecanização da agricultura e aos atentados da revulsão foram os que na maioria dos casos foram seleccionados para a tauromaquia ou simplesmente para a carolice na vertente do lazer de seus criadores.
Penso que um equitador que consegue por um cavalo a tourear numa praça por demais barulhenta e ainda na frente de um animal que o cavalo sabe de tenra idade que é perigoso, também o ensinará a fazer uns ladeares, bonitos galopes umas piruetas, espáduas a dentro e tudo o que pedirem com uma inegável conformação e obediência.

Ele tal como os seus antepassados foi habituado a lhe exigirem coisas como estar imóvel durante alguns segundos a 5/6 m. da cara de um toiro hoje de 500/600 KG. Tendo em sua boca um freio e uma barbela que parece uma alavanca e ainda uma serreta muito aguçada no chanfro e uma gamarra, ajudado na lide por umas esporas aguçadas que cada vez que lhe passam na barriga a deixam em sangue tal é a chaga permanente em que está e com todos estes artefactos deixa se conduzir em contra-rédea com uma suavidade milimétrica para honra de seu cavaleiro e gáuldio do publico e onde a sua obediência é mais notória é quando ele foi encaminhado para fora da praça e se apressa a passar pela porta dos cavaleiros, o seu cavaleiro pede que o publico lhe exija mais um ferro aí ele é mandado parar entre portas o publico lá se decide e ele de pronto com um encosto da rédea direita na tábua do pescoço inverte o sentido de marcha .

Deixar-se-á ele ensinar na dessage, na equitação de trabalho, alguém o colocará entre varais ou ao lado de outro cavalo para fazer um derby, ou meterá de cima dele umas bolas numas redes, será ele útil numa escola de arte equestre nos diferentes desempenhos ?

Certamente que sim, tenham eles aquilo que que um grande Senhor dos cavalos, tal como da arquitectura o Sr.Arq. Arsénio Raposo Cordeiro disse: “Os cavalos têm de ter a sorte de encontrar cavaleiros que os mereçam “

Alguns teriam outro desempenho se quando na barriga das mães e depois quando desmamados tivessem uma alimentação adequada sem carências de espécie algumas, ostentavam um esqueleto mais forte e articulações sem problemas.

O maneio do poldro começar logo após o desmame traz benefícios no comportamento dele quando adulto alem de se reflectir como mais valia no desbaste e iniciação em qualquer actividade equestre.

Estes dois factores que quis trazer a este fórum são para mim a base da criação de cavalos, que aprendi dos meus familiares e que tenho adoptado como regra.

Tendo como base a regra que descrevi, é necessário uma outra regra para a selecção, a dos nossos dias terá que ser forçosamente diferente da dos meus avós, sei neste momento como gostaria que fossem todos os meus cavalos, não teriam membros fracos, nem desaprumados, teriam curvilhões baixos e antebraços compridos, o pescoço na base, bem acima do peitoral mesmo com uma depressão na interligação do garrote ( este bem acima do nível da garupa ), tendo como ponto mais elevado a nuca e nunca a gordura na base da críneira, dorso forte nunca descendo para a frente mas musculado no rim com boa ligação á garupa, esta para o comprido e descendente, uma costela comprida também vinha a calhar para não lhe passar demasiado vento por baixo da barriga e para ter um bom tórax.

Sabendo o que se quer atingir obtidos alguns conhecimentos por experiências próprias ou alheias, aparentemente o caminho está livre de obstáculos, no entanto falta aquilo que é a quimera de tudo isto, seleccionar o cavalo certo para a égua certa de modo a obter o resultado pretendido, esta tem sido a grande demanda de alguns criadores e na ânsia do êxito, alguns prontificam-se adulterar a raça passando por cima de regulamentos comummente aceites, ainda há os que preconizam a abertura da raça a animais de outras raças.

Quem assiste aos diferentes concursos de modelos e andamentos que se realizam entre nós, constata a evolução que o Lusitano têm tido ao longo destes últimos anos sem necessidade de introduzir animais de outras raças, pois algumas experiências recentes não trouxeram nenhuma melhoria como exemplo coloco um filho A.R do Judio III e um Lusitano dos mais puros Viheste QuejuizoA.R.


Tendo o nosso cavalo evoluído para melhor em minha opinião, saliento que fragilidades como falta de força em especial dos posteriores, notório por não se transpistarem por não os articularem com elevação quase que arrastam os cascos para alem disso e como agravante há os que “ceifam” aquelas mãos parecem concertinas, notória a falta de força é cavalos com algum desenvolvimento físico não mostrarem musculatura no rim, pelo contrario a ligação dorso/garupa é má revela rigidez, os membros finos, bolêtos pouco desenvolvidos, pescoços demasiado enfartados pesados em excesso.

Ainda existem outros pontos fracos do nosso cavalo quando o comparamos com os de outras raças, mas ao tentarmos alterá-los descaracterizamos a raça, ao invés disso podemos alterar os pontos fracos que a traz mencionei, assim penso que se deveria adoptar uma metodologia que passa-se por desbastar e testar todas as éguas em termos de montabilidade e andamentos, selecciona-las pela morfologia pretendida, desse modo o caminho para termos mais cavalos na dressage tornar-se-ia mais curto.

Estou também ciente do grau de dificuldade que tem qualquer criador em adoptar tal metodologia, que fazer com as éguas e os garanhões que hoje procriam e que com tanto amor e carinho foram cá nascendo crescendo e procriando ? e que até têm esta ou aquela virtude? Mas penso que se a estratégia não mudar vai-se generalizar o que tenho visto em algumas coudelarias, cercas ceias de animais os donos agarrados à cabeça sem saber o que fazer com tantos animais porque o mercado hoje só quer animais com outras características e temo que brevemente até esses terão menos procura.

Citando o Sr. Arq. Raposo Cordeiro : na criação 30 anos não é nada…….. não inventamos nada, só seleccionamos e espero que se continue, não apenas para exposições, mas sim para fins específicos, onde eles funcionem
( revista Equitação nov. / dez.)


Termino por dizer que gostaria que os meus animais funcionassem bem no ensino e na atrelagem, modalidades que mais aprecio e pratico como lazer, certamente haverá outros que sejam admiradores de outras actividades equestres, por ventura terão opiniões diferentes, é para todos que o nosso Lusitano se torna gigante é polivalente dá para todos os gostos, nesta mais valia nunca se deveria tocar.


Cumprimentos a todos.


José Gabriel A. Calção

Rodrigo Almeida
Espectador
Mensagens: 6
Registado: quinta dez 04, 2008 8:27 am

Re: Cavalo Lusitano na Dressage: pontos fortes e pontos fracos

#7 Mensagem por Rodrigo Almeida » quinta jan 22, 2009 2:04 am

Caro José Calção,

Obrigado pelo comentário que tive o prazer de ler!

Apesar do Cavalonet me haver restringido a divulgação do meu blog, e da tentativa que encetei junto do seu coordenador na procura de uma solução de compromisso, sinto que não posso deixar de responder ao post que tão gentilmente teve o cuidado de construir.

Vou ser breve uma vez que já muito se falou nas várias possibilidades de afirmação do Lusitano no mundo, assim, e na minha perspectiva, existe uma necessidade premente de retorno às provas morfo-funcionais como forma de valorização efectiva da raça.

Esta é a melhor forma de promover cavalos exclusivamente pelo seu mérito!

Aproveito para anunciar, pelos motivos acima evocados, que abandono a minha participação no Cavalonet.

Cumprimentos a todos,
Rodrigo Almeida

Tamão
Sela 04 (estribo de bronze)
Mensagens: 51
Registado: domingo ago 02, 2009 12:40 pm

Re: Cavalo Lusitano na Dressage: pontos fortes e pontos fracos

#8 Mensagem por Tamão » quinta ago 27, 2009 2:36 pm

Pois é pena que o faça, caro Rodrigo Almeida, porque o seu tópico suscitou um dos melhores debates deste fórum. Espero que reconsidere e continue a lançar aqui desafios deste género, para que o público (como eu) possa ser esclarecido.

Responder

Voltar para “Puro Sangue Lusitano”