"Os coiros Lusitanos"

[PSL]

“Os coiros Lusitanos”

Em Portugal os coiros são a desculpa para a falta de qualidade da maioria dos nossos cavaleiros. Neste contexto o cavalo sofredor é a pérola do amadorismo, uma vez que desculpa todas as atrocidades, num sofrimento silencioso, semelhante à mulher que atura a violência do marido num silêncio mórbido. Violência contra humildade apenas garante a vitória dos fracos, daqueles que não têm inteligência e argúcia para dar a volta às situações, os mesmos que quando confrontados com animais cuja personalidade não se coaduna com tais actos, gera o confronto entre duas revoltas. A do cavaleiro por encontrar um oponente à altura e a do cavalo por não permitir o desenvolvimento da má equitação.

Este é o contexto em que se “queimam” cavalos com a mesma facilidade e consciência com que se bebe um copo de água. O mau trabalho acha um bode expiatório, que muitas das vezes fica eternamente traumatizado na providente “coirice”. Na plateia destes espectáculos recorrentes estão o resto dos intervenientes que, à semelhança do que se passa em sociedade, quando alguém é acusado de algo injustamente e se mantém a eterna suspeição (apesar de ilibado), consideram justa a qualificação atribuída pela “seriedade” do ser pensante.

Pois é caros amigos, desconfiem sempre dessas qualificações, pensem com seriedade no estranho facto dos cavalos Lusitanos de qualidade apenas se encontrarem em mãos de estrangeiros ou no estrangeiro. Não será este facto revelador da cultura que preside aos destinos dos nossos amigos de quatro patas, entregues à ignorância de outro animal de duas patas.

Como em tudo na vida o que conta é a soma de resultados, dá para desconfiar quando alguém desculpa uma vida de ausência de resultados com o azar de estar constantemente a ser confrontado com coiros, coxos e outras qualificações tais.

Desejo sorte ao proprietário que pretenda que o seu quadrúpede seja montado em Portugal por um profissional habilitado, qualificado e honesto, que desempenhe um trabalho sistemático que vá ao encontro das expectativas do proprietário. Estava-me a esquecer de outro pequeno grande pormenor, que não corte na alimentação do nosso amigo para encher mais rapidamente a carteira (situação recorrente na desculpa, "eu dou-lhe comida mas ele não engorda, é da qualidade dele").

Como conclusão: a qualidade dos nossos cavalos aumentou substancialmente, a dos cavaleiros (salvo raríssimas excepções) anda pela rua da amargura, sobretudo por falta de investimento em formação, muita falta de trabalho (há que reparar na forma física do cavaleiro, é o melhor índice do coeficiente de perguicite - atenção às barriguitas) e de honestidade (quantas vezes se assiste à atribuição de defeitos a um animal, para de seguida aparecer um comprador milagroso que está disposto a comprá-lo por pouco dinheiro).

[anabela]

Olá,

Sou novata por aqui, mas achei a sua intervenção brilhante.

Pelo pouco que sei, já vi alguns casos parecidos.

Atenciosamente

Anabela

[Sandra]

Não podia concordar mais. Actualmente fala-se muito em mudar o Lusitano para se aproximar aos padrões dos "Warmblood", fala-se que o cavalo tem que mudar porque não está bom para a competição da maneira como é constituído (o tal "tipo Barroco"). Mas a verdade é que lá fora, com o devido treino, todos os lusitanos que foram treinados devidamente são conhecidos, porque se evidenciaram de algum modo no desporto. Portanto vamos concentrar-nos em mudar a maneira como tratamos e treinamos os nossos cavalos, porque mesmo que o cavalo já seja perfeito, com um mau cavaleiro não faz milagres..

Gostei muito
Sandra