Concursos de Modelos e Andamentos

Fórum da raça

Moderador: Filipe Graciosa

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liandro
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Concursos de Modelos e Andamentos

#1 Mensagem por liandro » sexta fev 05, 2010 10:25 am

Alguém me sabe responder ou explicar, se nos concursos de "Modelos e Andamentos dos Festivais da APSL de Cascais", os cavalos/Poldros são avaliados tendo em atenção a sua morfologia (padrão da raça)e andamentos ou apenas a sua beleza exterior (boniteza e estilo barroco do lusitano)?

Penso que serão avaliados a "morfologia e os andamentos" tendo em conta o padrão da raça!

Assim, como é possível que um cavalo/Poldro premiado com medalha de prata ou ouro (por ser excelente e estar dentro do padrão da raça lusitana), passado 1mês o cavalo é "Reprovado" ou "tem nota baixa" num Concurso de aprovação de garanhões PSL, com a desculpa do Júri de que o "cavalo não está dentro do padrão da raça".

O que é isso de "padrão da raça"?... Sei o que está escrito no Stud Book! Não sei é o que os Juízes da APSL pensam (ou querem).
Não compreendo que, para um Júri o cavalo é "excelente e está dentro do padrão", para outro Júri é medriocre e "não está dentro do padrão".
Definam critérios transparentes e coerentes e não classificações feitas por interesses pessoais, ou ...então é incompetência e outras coisas!...
Assim, como é que os criadores de PSL e os amantes do cavalo lusitano podem acreditar nas Instituições. (APSL e FAR).
Já é altura do Ministério de Agricultura e a FAR, nomear alguém independente e competente para analisar e dar uma solução as estas incongruências, senão é melhor entregar o controle do PSL aos Brasileiros.

Lisandro Garcia

Tamão
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#2 Mensagem por Tamão » sexta fev 05, 2010 6:44 pm

Pois é, Liandro; parece no mundo do cavalo lusitano há um grande conflito e confusão entre ciência e arte. No entanto a ciência e a arte sempre andaram associadas: antiguidade de forma implícita e hoje de forma explícita; A verdadeira arte de hoje é produzida com bases científicas e técnicas como instrumentos preciosos usados pela criatividade do artista.
Penso que a criação do lusitano é uma verdadeira arte, mas essa arte tem que deitar mão aos dados e critérios científicos que hoje estão disponíveis. Isto deve aplicar-se também (e, parece-me, sobretudo) ao campo da avaliação, que quanto possível deveria recorrer ao máximo de critérios científicos e objectivos.
Quanto aos aspectos subjectivos inerentes à avaliação, penso que poderiam ser atenuados aumentando o número de juízes a julgar (mínimo dez), aumentando e pormenorizando os parâmetros de avaliação que devem constar do Padrão da raça, utilizando um critério de pontuação por percentagem (pontuar de 1 a 100) para cada parâmetro de avaliação e tirar uma média final.
Não sou um perito em cavalos, mas penso que uma mudança destas traria muitos benefícios para a preservação e promoção deste património nacional e contribuiria para a neutralização dos oportunistas.
abraços

ABC
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#3 Mensagem por ABC » sábado fev 06, 2010 9:25 am

Cara amigos,

Vou tentar responder às vossas dúvidas, que no fundo são as de todos. O que se passa na cabeça dos juízes é um pouco a imagem do caciquismo dos marajás indianos do antigamente. No fundo, o quero posso e mando, no entanto, num estilo perfeitamente adaptado aos tempos modernos. Este estilo é hipocritamente teatral, querendo fazer parecer aquilo que não corresponde ao que está estipulado no padrão.

Passo a concretizar, eles primeiro observam os andamentos, e daí vão penalizar ou não, o modelo. O entendimento é baseado em leis dos próprios (não se encontram regulamentadas pela APSL), que estabeleceram que se um cavalo não tem andamentos, é porque usa mal o dorso, e a espádua será igualmente medíocre porque não a utiliza. Depois de retirada a sela surgem pontos desfavoráveis, a um dorso que à vista é direito, e a uma espádua que se encaixa igualmente e milimetricamente no padrão. Isto não pode acontecer!!!

Só revela, independentemente da razoabilidade técnica, que os procedimentos estão anarquizados. Revela igualmente que a APSL continua a deixar a realidade ultrapassar uma regulamentação que está caduca!

Foi a falta de actualização de regulamentos que provocou a situação do Brasil. Foi a falta de actualização de regulamentos que provocou a situação do Afonso Henriques. E continua a ser a falta de actualização de regulamentos que provoca a situação mais caricata do mundo, que se está a passar em Espanha. Como está a ser cumpridora, a Associação Espanhola do Lusitano não tem um stud book espanhol do Lusitano, como penalização indirecta relativamente a este cumprimento, os Lusitanos tem de ser inscritos como cruzados para obterem um Livro Azul emitido pelo Estado Espanhol. A APSL e FAR tem de entender que vivem na Comunidade Europeia, e que por tal tem de estar em consonância com a regulamentação comunitária.

Para que se entenda melhor, até a FAR tenta assumir a camisola de cacique, quando tenta obrigar a que todos façam as análises de sangue no seu laboratório. A legislação comunitária é peremptória, o criador só é obrigado a fazer a análise num laboratório reconhecido pelo ISAG. Após este procedimento remete o resultado para a FAR. Simples! O problema da FAR é que fez investimentos desmedidos no seu laboratório, e presentemente não tem um preço por análise, que seja competitivo com os outros laboratórios particulares. Ou seja, os criadores que fizerem as análises no laboratório da FAR estão a pagar mais do que o preço do mercado.

Outra questão que ninguém fala mas que é uma realidade no Lusitano dos EUA (existe e é um procedimento que está vulgarizado), é a colheita de pelos para verificação de paternidade. Este procedimento é possível e legal. Contudo no nosso Portugal, os nossos organismos Oficiais não falam dele. Porquê? Porque acham que iria ao encontro da bandalheira; porque querem que o procedimento esteja reservado à classe Médico Veterinária (única garantia de idoneidade – segundo o entendimento Oficial). Ora o acto de recolha de pelos, não é um acto Médico, como tal pode ser praticado pelo criador. Qual a vantagem? Uma redução dos custos para o criador, que cada vez se vê mais atolado em taxas e sobretaxas. Lembram-se do tempo do Sr. José da Silva? Provavelmente a maioria não, mas nesse tempo em que não havia APSL, as taxas de inscrição no LN eram irrisórias e os serviços administrativos funcionavam na APCRS (Associação Portuguesa de Criadores de Raças Selectas).

Por cá os sócios da APSL votaram a favor da transferência de embriões. Esta aprovação ainda não está homologada pela FAR, portanto ainda não se encontra em vigor. É igualmente caricato que a APSL apresente um documento para aprovação aos seus sócios, e que antes não o tenha remetido à FAR para esta dar o seu parecer. A realidade é de gritos, ou seja neste momento já houve transacções de compra e venda de embriões, e o documento que a legitima ainda não está aprovado. Feliz de quem está nos EUA e que já pratica a transferência de embriões na raça Lusitana, ao abrigo da sua própria regulamentação.

Já agora pergunto, alguém se deu ao trabalho de ler o Regulamento do Livro Genealógico do Stud Book brasileiro? De certeza que não! Se o tivessem feito ficariam de boca aberta com o nível técnico e de previsibilidade que se encontrava ali espelhado. Mais uma vez as evidências revelam que a APSL, não trabalha, é incompetente, e pior ainda, não deixa trabalhar quem quer evoluir! Será que é neste formato que pretende liderar o Puro Sangue Lusitano no Mundo? Será que ainda não entendeu que não pode tratar as Associações congéneres dos outros países como colónias de Portugal? A experiência da história é bem cruel, para quem tentou eternizar as políticas colonialistas.

Ponham os olhos no Puro Sangue Inglês e retirem as experiências de um sistema que resulta. Também a Inglaterra e a Irlanda se tentaram agarrar ao poder, há muitos anos atrás. Contudo, hoje em dia, palpitam stud book’s Oficiais do PSI pelo mundo.

Isto tudo que acabei de transmitir é informação! Não perguntem o que os organismos oficiais podem fazer por vós, antes, sejam vocês, com uma atitude crítica, educada, e fundamentada que procurem informação, e que com ela exijam a mudança que se impõe. Esqueçam os adjectivos que vos vão tentar colar, de líricos, mal educados, com objectivos dúbios e obscuros. Neste rol o mais caricato e despropositado, foi o que tentaram colar à imagem do Dr. Domingos Graciosa, chamavam-no de esquizofrénico. Pois bem caros amigos, agradeçam a este Homem, pois aquilo que ele já fez pela raça é de um mérito tremendo. Cada um faz à sua maneira, e as maneiras muito próprias do Dr. Domingos, efectivamente trouxeram resultados, e mexeram em muito, nos interesses instalados.

O nível de actuação dos nossos políticos e a gestão dos nossos destinos continua a ser conduzida por gente medíocre. No caso do Lusitano, e por amor ao Lusitano imponham-se, levantem-se contra este autêntico queijo Suíço. E mais importante que tudo, mantenham-se unidos nesta Luta, independentemente das pequenas diferenças de opinião que tenham. Pois o objectivo fala mais alto.

Entretanto, preparem-se igualmente para a difamação, pois as ratas quando são acossados mordem a sério!

Bem hajam!

lusitanoPO
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#4 Mensagem por lusitanoPO » quarta fev 10, 2010 3:11 pm

Para se adaptar à realidade actual, resultante da evolução do PSL, a APSL deveria nomear uma "Comissão de Tecnicos" que criasse critérios uniformes e idóneos, com base num levantamento de, quantos cavalos campeões de Festivais de Modelo e Andamentos ou com elevadas pontuações nos Concursos de Garanhões se tornaram animais de reconhecida funcionalidade ou chegaram ao TOP por Mérito, em modalidades de desporto, lazer,etc.

Iria ajudar todos os criadores de PSL, esclarecer muitos ignorantes da raça PSL e do mercado.

Não nos podemos esquecer que o universo comercial (vendas) vive à sombra dos resultados das provas de Modelo e Andamentos(Festivais), da tradicional pontuação do Concurso de Garanhões e a maioria dos cavalos são vendidos com base na Certificação dos pontos.

LusitanoPO

Tamão
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#5 Mensagem por Tamão » quinta fev 11, 2010 10:16 am

Parece-me o bom ponto de partida, mas também me parece que essa comissão deveria ser "técnico-científica". E que tal implicar as universidades num programa de melhoramento da raça, que preservasse todo o seu património genético e "arquitectónico" da mesma, com bases científicas sólidas?

lusitanoPO
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#6 Mensagem por lusitanoPO » quinta fev 11, 2010 5:20 pm

Para responder a muitas das interrogações apresentadas no Fórum, aconselho a lerem a entrevista que Francisco Cancella de Abreu dá na "Equisport online", pessoa com reconhecidos conhecimentos técnicos internacionais sobre o cavalo PSL e as avaliações da APSL.
Equisport online Escreveu:NOS MEANDROS DO CAVALO LUSITANO
Por Rodrigo Coelho de Almeida

Acho que todos conhecem o Francisco Cancella de Abreu, e a sua maneira de estar tão característica, venerado por uns, odiado por outros, é no fundo uma figura que dispensa apresentações, e que não deixa ninguém indiferente à sua passagem.

Reconhecer virtudes é uma das características que não cola bem no português, que geralmente prefere perder-se no conforto de um lugar comum, que lhe permita eternizar o superficialismo público do comentário fácil e politicamente correcto, sempre sem formalizar. Afinal a escrita, para alguns, pode-se transformar num verdadeiro calvário.

O direito à divergência de opinião fundamentada, neste meio em que nos movemos, passou a encaminhar os seus autores para o beco da polémica e dos interesses dúbios! Onde fica o Direito ao contraditório? Onde fica a pluralidade? Onde fica a democracia? Oxalá que os tempos que se avizinham de mudança, constituam um forte apelo à renovação de ideias e de posturas. Que termine de vez o comentário derrotista do “não vale a pena”!

Independentemente da concordância ou divergência de opinião que mantenho com o Francisco, reconheço-lhe duas grandes virtudes: a frontalidade e profissionalismo com que aborda e formaliza pela escrita os assuntos; e a dinâmica e empenho com que “despacha” em tempo útil, os assuntos que lhe são confiados.

Mais uma vez apelei ao seu profissionalismo, para na entrevista que vão ler, poderem encontrar “tijolos” de sobra, a um forte apelo à constituição da massa crítica, que a raça Lusitana tanto carece.


1. RA – Qual o seu conceito de um animal com perfil desportivo?

FCA –
É o equídeo capaz de conviver e até superar a dificuldade técnica das competições dos dias de hoje, e que tem a obrigação de se posicionar na primeira metade da classificação. São escalonados pelo nível das provas onde competem (regionais, nacionais ou internacionais). Consequentemente, será esse nível e posicionamento, que definirá a mais-valia económica para a sua comercialização e fixação do preço, tudo isto de acordo com uma aferição criteriosa e meritocrática, dos diferentes degraus de atleticismo e experiência em prova.

O objectivo de uma criação que pretenda a viabilidade económica, terá de ser a produção de cavalos para o nível internacional.

O cavalo atleta é feito a partir de uma morfologia adequada, que incluiu obrigatoriamente a força necessária, que assegure a regularidade da locomoção e uma agilidade flexível, a que damos o nome de elasticidade. É ainda fundamental a atitude mental, que é muito boa na nossa raça, e que obrigatoriamente terá de acompanhar a força, e não tentar substituí-la.

Não podemos esquecer que os melhores cavalos são os que nunca estão em esforço exagerado, ou seja, aqueles que sem qualquer sofrimento, superam os esforços da prova que têm pela frente.

Este conjunto de qualidades fundamentais, em proporções equilibradas, gera o valor do cavalo de dressage. Já em CSO (concurso de salto de obstáculos), existe só a necessidade imperiosa de um galope ágil, a par da técnica de salto. Para o toureio é importante o galope e talento adequado, não tendo qualquer importância os outros andamentos. Bem como não tem qualquer importância o facto de ser um cavalo bonito ou feio.

Esta é uma das dramáticas confusões que a APSL vai eternizar no futuro sistema de avaliação, que chumbará candidatos a garanhão com três notas de 6, nas várias regiões do corpo, sem sequer ter em conta, as mais que conhecidas heritabilidades de cada região. O nível de transmissibilidade dos membros ronda os 14%, consequentemente, defeitos multifactoriais (com origens diversas), como desaprumos ou falta de substância óssea, cuja origem pode estar na falta de correcção atempada pelo ferrador, e/ou de uma alimentação irregular, podem constituir motivos de penalização que fogem às leis da genética. Tenho visto cavalos destes, com uma locomoção eficaz, que não duvidaria usar como garanhão. Contudo, com este sistema será impossível. Vão chumbá-los, como se sobrassem cavalos de performance.


Confunde-se uma avaliação de garanhões com um concurso de beleza! Com a agravante que a nota Oficial que recebem para os três andamentos, é um 3 em 1, o que implica que os criadores ficam sem a componente didáctica da informação detalhada (…) estaríamos horas a discutir inutilmente o futuro Oficial da raça!

Como tenho tido oportunidade de referir, a única vantagem do sistema APSL, é que ainda não impede completamente, os criadores esclarecidos, de fazer uma criação correcta.

É óbvio que se a FAR aprovar a proposta, agora suspensa (espero que nunca a aprove e que apresente um regulamento adequado ao séc. XXI), teremos um sistema ainda mais corruptível (pobres juízes e respectivas mães), com um número crescente de criadores descontentes, e cavalos certamente mais bonitos, mas em nada melhores.

No desporto há lugar para uma diversidade ampla de cavalos, é tudo uma questão vocacional, que deve ser descoberta logo que o cavalo tenha um nível de submissão que o permita experimentar as várias modalidades implicadas.

Foi um erro que cometi frequentemente, obrigar os cavalos a uma determinada disciplina sem ter experimentado outras, onde possivelmente teriam melhor desempenho e seriam mais rentáveis.

Devo dizer, que é exactamente a falta de rentabilidade da criação do lusitano a minha grande queixa como profissional!

Quem dependa economicamente deste cavalo, está condenado a passar toda uma vida a contar cêntimos, e a esticar orçamentos ou mesmo a pedir desculpa ao merceeiro porque está já na lista negra. Sei bem o que isso é!

Economicamente, o lusitano não vale 1/3 das raças rentáveis, porque nunca se fez um trabalho de selecção séria e contrastada, como ocorreu no PSI ou no Warmblood. Pese o facto, de que criar um lusitano, custa mais caro que criar um Warmblood. Veja-se o preço descontrolado das inseminações.

Este trabalho tem sido sempre substituído por marketing, agora “glamoroso”, logo castiço, onde se tenta impingir aos possíveis clientes um cavalo vulgar a preço de um bom.

Claro que um bom marketing é fundamental. O que ele não pode, é substituir e falsificar um sistema de selecção.

Estou cada vez mais convencido e muito encorajado, pelos recentes resultados do “Rico” GUB (Hostil JGB x Cortiça FEA por Tivoli AR) ferro Júlio e Guilherme Borba, que possivelmente possibilitará, a muito curto prazo, sermos considerados um temível concorrente dos Warmblood. Mas para isso, há que ter as ideias claras sobre as qualidades atléticas do cavalo de desporto, que como é tão evidente, no caso do “Rico” não são as do tirano padrão de beleza instituído.

Este cavalo funciona atléticamente como nenhum outro lusitano até hoje conseguiu, graças ao conhecimento do seu criador, e ao cuidado que pôs na performance dos ascendentes. Espero que o exemplo do meu Mestre, o Dr. Guilherme Borba, seja seguido pelo maior número possível de criadores.

Assim teríamos garantido um grande futuro para uma raça, que na última década começou a mostrar-se na alta competição de dressage e tem já a simpatia mundial.

2. RA – Em linhas gerais em que consiste o seu programa de selecção de cavalos e éguas de perfil desportivo? Abarca critérios objectivos assentes na previsibilidade? Quais?

FCA –
O programa que uso e recomendo na selecção de cavalos de desporto, inicia-se com a verificação da saúde dos reprodutores (machos e fêmeas), e uma análise cuidada à descendência, com exames veterinários exaustivos. Em simultâneo verifica-se através de análise aos solos, às forragens e rações, qual o real valor nutritivo que aportam, e como optimizar o seu uso de acordo com os vários estados de crescimento e épocas do ano.

A qualidade das vedações, a correcta construção de boxes, as boas camas e os bons pisos de trabalho, o desbaste e a seguinte equitação correcta etc. (...). Creio que sem esta base, é melhor “fechar a loja” antes que os prejuízos sejam insustentáveis.

A avaliação básica a partir da desmama consta da atribuição de 5 notas – actualizáveis com a idade. Notas para: trote, galope, passo, salto em liberdade, e modelo. Com a anotação das seguintes observações: defeitos físicos mais graves que afectem a performance, e/ou comportamentos menos desejáveis.

Os animais passam a ser conhecidos como por ex.: desmama de 2009 – Totilas 67857, (abre posteriores, distraído e medroso), até nova avaliação.

Poldros que ao fim de 3 observações não atinjam o nível 7, são vendidos rápidamente por não interessarem às modalidades propostas. Apesar de poderem ser utilíssimos para outras, alguns até são medalhas de ouro (…) “à trela”, nos mais importantes concursos de modelo e andamentos. A partir dos 3 anos são descritos e avaliados pelo sistema linear holandês, o que nos facilita, sobretudo no escalonamento das prioridades, eventuais correcções pelo “casamento”. Posteriormente e no decorrer da aplicação deste sistema, será possível uma avaliação individual e rigorosa das características transmitidas por progenitora, e por garanhão.

Pelo tratamento da informação que tenho arquivada numa base de dados, devo frisar que, éguas com notas inferiores a 7, produzem mal ou fatal.

Apenas tenho unicamente registada uma égua obesa, e por isso incapaz de se exprimir!!, com 6 a passo, trote e galope, que fez filhos com 7s e 8s.

Estes valores são curiosamente confirmados por dados estatísticos das outras raças de desporto.

No fundo, não é mais que repetir a cruel selecção natural, traduzida na modernidade da avaliação por notas. A nota de 7, quase bom, corresponde na Natureza, aos rápidos e vigorosos, os únicos que sobrevivem, e que são capazes de transmitir sobrevivência Os outros, não chegam a adultos, e felizmente nunca têm hipótese de transmitir “genes fracos”.

Quem queira conhecer em pormenor os “frutos” deste sistema de selecção, poderá fazê-lo no próximo Fórum do Cavalo Lusitano, e em português, que ocorrerá nos dias 8 e 9 de Maio, na Academia de Dressage Daniel Pinto.


3. RA – Qual a forma de apoio que alguém com a sua formação e currículo, pode disponibilizar a quem pretenda iniciar a actividade de criador, ou a de quem já o seja?

FCA –
Posso sobretudo ajudar na preparação e treino para competição, onde continuo a estudar, para ser cada vez mais competitivo.

Nas criações que assessoro em Portugal, mas sobretudo em Espanha, tenho tido dificuldade em inverter a tendência institucional, onde a tirania da beleza ofusca a qualidade real, e impede que se produzam cavalos que sirvam para outra coisa, que vá mais além do que a venda!

O único factor que interessa ao desporto, é a performance, pelo que, se o cavalo for feio, tem exactamente as mesmas hipóteses que o bonito.

Já tive criadores que me pediram a opinião sincera sobre a éguada de” boas linhas”, e bastante colorida, que tinham a pouco e pouco comprado e multiplicado. Avaliadas a funcionar não passavam de 6, mesmo alguma que atacava o solo com mais energia, tinha uma direcção dos andamentos, absolutamente “downhill” e aplanada, o que inviabiliza qualquer investimento razoável. A opinião que dei, aliás bem aceite, foi, venda tudo!

Está mais que provado que o sucesso de uma criação, vem sobretudo do bom nível das éguas, e que é deitar dinheiro à rua, o uso de bons e dispendiosos garanhões em éguas de notas satisfatórias (nota 6).

4. RA – Sendo a dressage muito marcada pela repetitividade dos seus exercícios, e havendo uma tendência para a finura de alguns cavalos lusitanos permitir antecipar a vontade do seu cavaleiro, como é possível impor o imediatismo da acção/reacção a este tipo de cavalos?

FCA –
Creio que há que distinguir duas situações: um treino inteligente e rigoroso pela precisão envolvida, absolutamente variado e até divertido, que prepara o cavalo para a disponibilidade total; e um treino intoxicado pela repetição e execução do texto de provas, ou rotinas diárias, que acarretam irremediavelmente a antecipação dos exercícios, e a consequente perda total do brilho. Ainda há que distinguir, se efectivamente estamos perante um cavalo que revela finura, ou histeria.

A fragilidade atlética do Lusitano propícia a segunda situação. Há cavalos capazes de obterem algumas passadas de qualidade, mas sucumbem às transições mais básicas, após as quais, sobrevém a excitação ou até a explosão. Curiosamente tenho visto cavalos destes absolutamente inúteis em dressage, ou atrelagem, a terem utilidade em toureio e obstáculos com desempenhos verdadeiramente inspirados.

Fino, é o cavalo que reage e aceita as ajudas mais delicadas, é um prazer montar. Histérico é o que se limita a reagir às ajudas, mas que é incapaz de as aceitar de modo estável, controlado, e regular.

5. RA – Há muita gente que associa dimensão física à exclusividade do tamanho (altura ao garrote) e algum aparato. Na sua opinião quais as características associadas à dimensão física, que permitem a um animal suportar com facilidade as exigências da alta competição?

FCA –
Creio que a dimensão do cavalo tem de ser adequada ao tamanho e volume do cavaleiro, por uma questão sobretudo estética.

Na raça lusitana, embora apareçam cavalos com mais de 1,70m, lembro-me de muito poucos, ágeis, saudáveis, e duradouros. Os que rondam o 1,60m, são sempre melhores atletas e mais saudáveis. Creio que é preciso fazer crescer a raça, porque os homens também cresceram. Mas sem pressas!

Desde que a dimensão das passadas seja a correcta, não faz falta ter cavalos com mais de 1,65m. Enchem perfeitamente uma pista, ou cumprem sem dificuldade os tempos.

6. RA - O “Florencio” (campeão mundial de dressage em 2004 em Verden – cavalos novos) é um cavalo de raça Westfalen, que teve a nota máxima de 10 no galope. Contudo, é do conhecimento geral, que esse galope, no actual nível em que ele se encontra, lhe tem trazido dificuldades nos exercícios de galope. Será que um galope exageradamente “uphill” não é um galope funcional?

FCA –
Penso que não é do facto do galope ter a desejável qualidade “uphill”, mas sim de um treino exagerado, com vista a prestações de nível mundial – neste caso para ganhar. Quando se trabalha um cavalo, não se deve limitar o seu futuro ao campeonato de 5 ou 6 anos.

É exactamente a partir dos 6 anos, que começa a sério a vida desportiva de qualquer cavalo. Não acompanhei o “Florencio”, mas conheço casos semelhantes em que o abuso da tensão, leva à descoordenação do galope. Os cavalos têm que ser trabalhados percorrendo absolutamente toda a gama de cada andamento, até percorrerem facilmente toda essa gama e transiçoes. Por exemplo: do trote reunidíssimo, quase Piaffer, ao trote largo e regresso. Isto aprende-se a passo, trabalha-se a trote e confirma-se no galope. Pode ser que o trabalho do “Florencio” só tenha contemplado a musculação, na gama média e larga do galope, e esse exagero, tenha produzido uma inflexibilidade que impeça o profundo e activo abaixamento das ancas. Não seria o primeiro!

Curiosamente esta foto do Florencio revela descoordenação do galope, nesta fase deveria estar em apoio, a mão direita, para que não ocorram 4 tempos. É uma situação fácil de detectar em foto ou câmara lenta, mas que à velocidade natural parece um galope mais amplo e activo. Tem sido muito falado em cursos de juízes mas é indetectável à visão humana, tal como a falta de suspensão no piaffer, e por tal, temos que atribuir a nota correspondente a um grande galope.

7. RA – Num galope muito “uphill”, pode haver animais cuja recepção/amortecimento do impacto ao solo dos membros posteriores, é efectuada com a parte de trás dos boletos. Na sua opinião qual será o efeito destes impactos continuados, na durabilidade dos membros desses animais?

FCA –
Só conheço um caso assim, fruto de curvilhoes muito direitos e quartelas exageradamente compridas. Em Piaffer e no galope, que era fatal, tocava com os esporões na areia. Nunca fez nada na vida, à parte de alarido nas calçadas. São dos tais defeitos graves, porque impedem a performance, que deviam ser tomados a sério, e não compensados com notas excepcionais na cabeça e pescoço, que o levaram a garanhão.

8. RA – No Fórum do Lusitano houve uma personalidade alemã, ligada ao mundo dos cavalos, que fez uma critica ao galope dos cavalos Lusitanos. Na opinião do mesmo, a raça deveria dar um passo atrás no galope, rever e corrigir, e daí partir novamente. Partilha da mesma opinião? O que entende como um bom e um mau galope?

FCA –
Compreendo perfeitamente o comentário, vindo de um homem Campeão do Mundo de cavalos novos, responsável pela compra e trabalho dos cavalos para o leilão mais caro do mundo (o PSI.- Paul Schokemüller International).

Nos dias que assistiu ao fórum, notou e muito bem, que a impulsão do galope do Lusitano nada tem a ver com a dos “Florencios”. Realmente é incrível ver o que sobe e plana sobre chão (impulsão), um warmblood, e o rasteiro que pode ser um Lusitano. Trata-se do factor força, que como já tive ocasião de referir em anteriores entrevistas, faz uma enorme diferença. Eles galopam para 9 e 10, e nós para 7. Logo, também podemos verificar que os nossos são manejáveis e aceitam todas as dificuldades, e os deles só são bons nas séries de passagens de mão e alargamentos. Qual será então o melhor galope? O deles tem sempre mais pontos! Mas será o mais desejável? Creio que no meio estará a virtude, “desaplanar” os nossos, e sentar os deles. Para mim a prioridade do momento, é a amplitude do passo nas mais de 500 éguas que acompanho. Só tenho duas notas de 8, a passo montado claro.
http://www.equisport.pt/gca/index.php?id=863

liandro
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#7 Mensagem por liandro » quinta fev 18, 2010 3:58 pm

Parece ser mais um Técnico competente "Outsider" que não está na protecção dos "donos" do PSL e teve que emigrar para Espanha.

E agora?

O Ministério de Agricultura do Brasil nomeou o Sr. Marcelo Vasconcellos, que segundo diz o site da ABPSL, ..." tem como objectivo de agilizar o Studbook Brasileiro... procedendo com eficácia, regularidade e veracidade, de modo a cumprir as directrizes exigidas pelo Ministério de Agricultura do BRASIL" ... ( não o de Portugal!).

Como vai reagir a isto a FAR e o APSL?
Como estão a decorrer as inscrições dos cavalos brasileiros no Studbook PORTUGUÊS!

Leandro Garcia

Tamão
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#8 Mensagem por Tamão » quinta fev 18, 2010 10:39 pm

Isto anda tudo como o governo.

liandro
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#9 Mensagem por liandro » sexta fev 19, 2010 5:33 pm

Dia 20/02/2010

Há concurso de Prova de Admissão de Garanhões PSL
na Marinha (Cascais).

Esperemos que corra melhor que na Golegã e que indiquem Juizes competentes!
Que não olhem aos donos dos cavalos, que aprovem o que é de aprovar com pontuação correcta e tenham a coragem de reprovar (os animais deficientes).

PSL
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#10 Mensagem por PSL » domingo fev 21, 2010 10:34 am

Desmistificando

Acho que é a melhor palavra que define um exercício de mudança de postura, obrigatório, perante as avaliações a que os futuros reprodutores da raça actualmente se vêem sujeitos. O que eu quero dizer com isto, é que as repercussões destas pontuações devem ser relativizadas, mediante os objectivos de criação do autor dos emparelhamentos.

Se efectivamente o criador pretende que os objectivos de criação sejam vocacionados para o modelo e andamentos, obrigatoriamente que deve ter em elevada conta, as pontuações Oficiais, uma vez que teoricamente os critérios de avaliação em ambas são os mesmos. Digo teoricamente, uma vez que por vezes assistimos à atribuição de baixas pontuações a animais que posteriormente se classificam em lugares cimeiros nos concursos de modelo e andamentos. Isto obviamente que gera desentendimento!

No entanto a mensagem que eu gostaria de transmitir com este post, é que nenhum cavalo deve ser condenado, em teoria, sem prova funcional em contrário! Isto é muito IMPORTANTE.

A função é o objectivo último, de quem é pragmático e apologista da utilidade.

Com este raciocínio surge uma questão interessante. Um cavalo que foi reprovado e que é crack na sua função, deverá ser reabilitado? Na minha opinião sim! Racionalmente faz sentido.

Há já uns anos que por cá ando e confesso que gosto de ouvir e reflectir naquilo que oiço. E ao longo da minha vida de paixão pelo Lusitano, fui ouvindo um sem número de julgamentos de “treinadores de bancada”, que perante determinados animais, os definem com enorme facilidade e imediatismo como excepcionais ou pencos. Quais os critérios para este tipo extremista de julgamentos “a la minute”. A morfologia!

É uma questão de cultura! Na base desta postura imediatista, estão as avaliações oficiais de 5 minutos.

Como afirmou e muito bem o Sr. Francisco Cancella de Abreu, não pode haver a veleidade de pretender efectuar avaliações Oficiais de cinco minutos, quando outras raças tecnicamente mais evoluídas demoram dias a avaliar (30 dias, ou mesmo 100 dias).

O papel indiciador da morfologia e que seguramente remete os Juízes Oficiais do Puro Sangue Lusitano para um dilema. Devo dar pontos de acordo com o que se encontra no padrão, ou deverei analisar os andamentos, e a partir daqui aferir as notas das “peças”? Esta é a grande questão e que traz toda esta falta de entendimento generalizado pela actividade de Juiz da Raça. Os julgamentos não podem ser entendíveis, face ao que se encontra regulamentado! É fácil de verificar que um dorso direito (como se encontra descrito no padrão) leva uma nota de 6. Porquê? A resposta é imediata, mas não se encontra escrita em parte alguma. Os andamentos indiciam um mau dorso, ele não funciona!


Concluindo:

A raça deve passar a ser olhada com positivismo. É necessário mudar a cultura de apenas olhar para os defeitos de um cavalo. Podem ter a certeza que vão redescobrir a raça com esta postura!
Deve ser abandonada a postura de crucificar um cavalo pela sua morfologia. A função deve ser a única garantia fiável da qualidade de um cavalo.

Muito importante - por favor não liguem nenhuma às pontuações. Nos moldes em que estão a ser praticadas não tem qualquer valor, quanto às reais qualidades e potencialidades de um cavalo ou égua funcional.

liandro
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#11 Mensagem por liandro » segunda fev 22, 2010 11:29 am

Infelizmente tem toda a razão Sr. "PSL".

São "raríssimos" os cavalos que tiveram elevadas pontuações nos CONCURSOS DE BELEZA (como diz F.Cancela de Abreu) ou critérios organizados pela APSL, que posteriormente apareçam com funcionalidade ou ocupem lugares cimeiros de destaque nos Concursos de Dressage ou Outras modalidades.

Porque será? que desaparecem!.. ninguém saba deles?

liandro
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#12 Mensagem por liandro » quinta fev 25, 2010 10:15 am

Alguém assistiu ao Concurso de Admissão de Garanhões PSL no dia 20 em Cascais?

Que possa dar noticias !

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Nuno Avelar
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#13 Mensagem por Nuno Avelar » quinta fev 25, 2010 11:28 pm

Boa noite,

Foram à prova 27 cavalos, somente chumbou um cavalo se bem que houve 2 cavalos de 60.5 e outros de 63, 62 , 64 , 67, julgo que apenas 5 passaram dos 70. Um filho do riopele com 72 e outro 74.5. Um cavalo rio frio com 73.

Nuno Avelar

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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#14 Mensagem por lusitanoPO » quinta mar 11, 2010 5:26 pm

Continua a confusão "sem rei nem roque" e a não ser cumprido os Regulamento Geneológico do PSL.
Houve 2 Poldros de 2 anos.
O CARTIER e o CASANOVA, da Coudelaria Inácio Ramos

Apurados como Garanhões no dia 27 na Marinha sem terem a idade mínima exigida pelo Regulamento (para serem aprovados).

É o salve-se quem puder!

A Fundação Alter Real (FAR) não tem nada a dizer?
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Re: Concursos de Modelos e Andamentos

#15 Mensagem por ABC » sexta mar 12, 2010 5:52 pm

Os animais que refere nasceram em 2007!

Portanto têm 3 anos e não 2.

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