Epanhóis e Lusitanos

Fórum da raça

Moderador: Filipe Graciosa

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Indiia
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#46 Mensagem por Indiia » segunda set 08, 2008 5:54 pm

não podia concordar mais consigo, Sandra.
O PSL barroco é o verdadeiro PSL...o de desporto, é algo que não aprecio...são linhas pouco lusas!
Filipa Fernandes

José Gabriel Calção
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Espanhois e lusitanos

#47 Mensagem por José Gabriel Calção » segunda set 15, 2008 8:10 pm

Olá a todos, quero manifestar a minha modesta opinião acerca do tema :
se em Espanha houvesse outro Príncipe VIII para dar cavalos como Cofre, Firme, Martini, seria um caso a ponderar, mas como existe um provérbio que considero o mais inteligente que há, que diz : "a mesma agua nunca passa duas vezes debaixo da mesma ponte" .
A ultima experiência que tive conhecimento, foi do Judio III que cobriu em Alter, resultou dai alguns filhos e filhas que ainda não se encontram no Stuud-book e que não provou ser uma mais valia para a raça.

Existem em Portugal garanhões de excelente qualidade, com testes que já se começou a fazer, com um critério inteligentemente selectivo do garanhão certo para cada égua, de modo a cobrir eventuais fraquezas que ela demonstre, obtém-se produtos condizentes com o gosto e os objectivos de cada criador e sempre muito na vanguarda dos cavalos que os Espanhóis apresentam como sendo o expoente máximo da PRE e que eles tanto propagandeiam como p.ex. FUEGO XII, que participou nos J.O.de Pequim e que demonstrou ter um bom equitador em cima e muitas, muitas, muitas horas de trabalho, mesmo assim não conseguiu esconder as flagrantes fraquezas que foram por demais evidentes.

Por o exposto atrevo-me a dizer que em vez de garanhões, porque não contratar bons equitadores ou formadores lá fora? e se acrescentar-mos ainda ao material genético que temos o apoio mais visível da Fundação de Alter Real como por ex. na aquisição de mais garanhões, uma vez que está instalada a opinião em muitos criadores de que o material genético que possuem não pode estar facilmente acessível a qualquer criador porque assim qualquer um pode vir a ter animais de qualidade, para contrariar isso praticam preços 5, 6 vezes mais caros que a média dos grandes campeões da Europa, nas entrevistas afirmam que querem promover, melhorar, apoiar, tornar competitiva a raça.

A Fundação disponibilizou aos criadores este ano os seus garanhões a preços que facilmente daria para adquirir animais de qualidade e por essa via exercer no pleno uma das actividades para a qual foi criada.

Sem mais, envio a todos os melhores cumprimentos.

José Gabriel A. Calção

PSL
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Os espanhóis e Portugal

#48 Mensagem por PSL » quarta set 17, 2008 1:39 pm

Os espanhóis e Portugal

Confesso que no passado fiz parte da lista dos Eurocéticos e a minha perspectiva de Portugal ligado ao que quer que seja era sempre vista como perda de identidade e de poder de soberania. Será interessante constatar no livro os Espanhóis e Portugal (José Freire Antunes) as inúmeras tentativas, no decurso da nossa história recente, de simbiose das duas nações numa óptica de federalismo ibérico. A mesma que está na base da aglutinação de estados nos EUA, que não foi consensual uma vez que implicou um encontro de diferenças gigante, algumas destas verdadeiras “feridas”, como o caso da guerra da secessão (1861-1865) que opôs Norte e Sul numa guerra fratricida.

Será igualmente interessante constatar no livro “Rebelião das Massas”, escrito por José Ortega y Gasset em 1926, a perspectiva de benefício comum à união dos países integrantes da Europa (a génese da União Europeia somente aconteceu em 1957). Chamamos homens proféticos de génio os que viram antes e melhor que os demais.

“Ingulir” na perspectiva Europeia um país com a história recente, como o caso da Alemanha, não é tarefa fácil, principalmente para os países que foram mais fustigados na 2.ª Guerra Mundial (Polónia, França, etc.), contudo aconteceu e será deveras interessante viajar à Alemanha para constatar o estado deste país, onde se nota uma preocupação constante de manter viva toda a documentação referente às atrocidades da Governação do III Reich (não esquecer - formato de aviso à humanidade para que não se repita) do Nacional Socialismo. Quantos genocídios já assistimos depois deste? É um problema da humanidade e não apenas dos países envolvidos. É como a sida - um problema de todos.

No presente e numa óptica do tronco genético do cavalo Ibérico li um artigo escrito por Katharina Braren, onde era feito um paralelismo entre a união do PRE e PSL e as recentes uniões sinérgicas entre grandes companhias. Pensei imediatamente na enorme coragem desta Senhora de aflorar um tema tão sensível, arriscando-se ao arremesso de inúmeros “machados” por parte dos nacionalistas espanhóis e portugueses, que consideram esta união como perda de identidade e não numa perspectiva de engrandecimento mútuo.

Numa visão redutora e simplista pensem nos problemas que o pequeno comércio em Portugal está a sofrer para conseguir enfrentar as grandes superfícies, a solução passa pela união de esforços e não pelo separatismo.

Em termos históricos os elementos pertencentes às agora consideradas raças (PSL e PRE) confundem-se, as éguas fundadoras da coudelaria Alter eram espanholas, o mesmo acontecendo com os animais da Coudelaria Nacional, D’Andrade, Infante da Câmara, etc.. A própria Lusitânia está integrada na península ibérica e não confinada a Portugal.

O Eng.º Manuel Tavares Veiga, escreveu num artigo intitulado "O Cavalo" (Quinta da Brôa - 1947), que: "o cavalo andaluz reunia todos os requisitos que o mais fino equitador pode exigir: nobreza, energia, distinção e a rusticidade e resistência de que necessitam todos os animais, inclusivamente o homem, para serem úteis"... "procure-se com paciência e perseverança, nas coudelarias do ribatejo, algumas éguas cujo tipo se aproxime do Andaluz porque ele é o mais distinto, o aristocrata dos cavalos da Ibéria"... "Bem alimentados, tratados com esmero, - sabemos isto por experiência própria - não será preciso esperar muito tempo para que surjam alguns exemplares, em reduzido número certamente, que permitam restaurar a antiga e muito nobre raça da Ibéria".

Sabendo o passado podemos entender o presente, ou seja o motivo que levou Manuel Tavares Veiga a padrear as suas éguas com um reprodutor PRE na mesma altura que veio o polémico Judio para Alter.

Animais que tiveram uma importância enorme na história do PSL como o caso do Príncipe VIII, Zorro (Francisco Ribeiro) e Marrafa (Vinhas) eram de origem espanhola. O que nos leva ao cerne da questão que é o ponto chave do futuro de qualquer raça, critérios de selecção.

Estes, correctamente aplicados a uma população mais alargada (a população da raça PSL integra 4000 éguas - é um efectivo muito reduzido) poderiam trazer enormes benefícios ao cavalo Ibérico (onde naturalmente entram igualmente os Lippizanos). Analisem o sucesso Chinês na produção de atletas olímpicos ganhadores ou o caso Brasileiro na produção de futebolistas de alto nível (como dizia Scolari, as escalas não são comparáveis e o universo de escolhas Brasileiro é substancialmente mais rico).

O artigo 18.º é uma porta entreaberta ao aproveitamento português dos melhores indivíduos pertencentes ao troco genético do cavalo ibérico.

Acho pobre, fecharmos ainda mais o nosso universo (somos uma raça fechada) com base em argumento nacionalistas de nítida insegurança perante as possibilidades de afirmação da nossa raça no mundo, com o aproveitamento do que melhor existe no cavalo Ibérico.

A título de exemplo eu ignorava por completo a antiguidade do esquema de selecção dos cavalos Lipizzanos, e fiquei espantado com a mecânica de andamentos da generalidade dos indivíduos pertencentes a essa raça.

Sei que este artigo vai ser alvo de inúmeras e acaloradas críticas, pelo que lanço um desafio aos críticos, para responderem com base na análise abaixo exposta, que permite mais objectividade na argumentação.

A análise SWOT é uma ferramenta de Gestão muito utilizada pelas empresas para diagnóstico estratégico. O termo é composto pelas iniciais das palavras S (Strenghts) pontos fortes, W (Weaknesses) pontos fracos, O (opportunities) oportunidades e T (Threats) ameaças.

PSL
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Re: Epanhóis e Lusitanos.

#49 Mensagem por PSL » domingo dez 28, 2008 3:29 pm

As verdadeiras origens do Firme

Num entrevista a José Luís Sommer D’Andrade, publicada na última edição da revista Novo Burladero (Janeiro 2009), é afirmado que:
“O Firme era um cavalo cruzado e transmitiu a genética que possuía. A sua avó, a Janota, era filha de dois Lipizzanos, que eram hispano-árabes, e como tal, o Firme tinha uma ponta de sangue árabe, que claramente foi transmitida à sua descendência. A Segura, mãe do Firme e do Cofre, só deu estes dois cavalos, porque de resto foi sempre largada a burros para produzir muares para trabalhar. Não sendo Cartujana pura, o avô não ambicionava ficar-lhe com a descendência.
Tanto o Firme - que toureou com o Zé Athayde – como o Cofre – que foi comprado pelo João Núncio e depois foi para o México onde fez a coudelaria do Gaston Santos – foram excelentes cavalos de toiros e bons garanhões que encontraram nas éguas a que foram largados, o sangue oriental que eles também possuíam.
Mas nós estamos a falar disto, como se isto tudo fossem raças puras, perfeitamente puras. Se olharmos bem para a história da éguada da Cartucha de Jerez, donde descende praticamente tudo o que é conhecido, diziam os monges que o cavalo Cartujano começa com uma tal “égua do soldado”, uma égua que eles apanharam às tropas francesas, quando correram com eles da Península. Dizem eles, espanhóis, não sou eu que digo, que parecia uma normanda. A negação da negação é uma afirmação. Era uma normanda que eles cobriam com os cavalinhos pequenos peninsulares e que por isso foi dando animais maiores, com outra dimensão, e sobretudo com outros andamentos. Tudo o resto, ofende-me pouco! Talvez me ofenda um bocadinho os cavalos orientais, ou muito orientais, mas estamos sempre a falar de uma raça cruzada. Isto do puro-sangue Lusitano é uma estupidez. Quem lhe chamou Puro-sangue Lusitano, das duas uma: ou não percebe nada disto ou é parvo”.

Tamão
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Re: Epanhóis e Lusitanos.

#50 Mensagem por Tamão » quinta ago 27, 2009 10:25 pm

Ora aí está uma nova opinião arrancada do passado. Defacto já tinha visto uma opinião diferente vinda da mesma fonte.
Mas então... afinal... temos um Puro Sangue ou um Sangue Impuro?
Segundo o livro "Cavalo Lusitano - O Filho do Vento", do Arq Raposo Cordeiro, houve um grande trabalho de investigação histórica e arqueológica em busca do modêlo oroginal do cavalo ibérico, que, segundo o autor do livro remonta pelo menos ao séc VaC. Segundo o mesmo autor, numa entrevista à revista Equitação (creio que por volta do ano 2000), foi com base nessa investigação que se elaborou o estalão da raça e na sequência de tudo isto os ciadores orientaram os seus crusamentos no sentido da recuperação desse cavalo antigo definido no estalão, o que foi conseguindo a um ritmo mais rápido do que se esperava.
Daqui conclui eu que o cavalo lusitano, como raça, é o cavalo ibérico antigo recuperado.

Desculpem o meu abuso, mas como li estas coisas penssei que fazia bem em colocá-las aqui, como uma humilde colaboração. Se estiver errado, por favor corrijam-me.

Abraços

ABC
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Re: Epanhóis e Lusitanos.

#51 Mensagem por ABC » sábado ago 29, 2009 2:10 am

Caro Tamão,

O termo puro-sangue aplicado ao cavalo Lusitano tem feito correr muita tinta, e julgo que é oportuno haver consenso e bom senso na forma de encarar a sua envolvente. Na minha opinião toda a interpretação que a faça recair para o lado do puritanismo, só pode degenerar em controvérsia e desentendimento generalizado.

Afinal o que é uma coisa pura? Se remontarmos ao período negro de 1936-1945, deparamo-nos com o horror de tudo o que reveste o desentendimento em relação à palavra puro, estou-me a referir obviamente à bandeira do arianismo, associada ao regime nazi.

A explicação do autor da expressão, vêm-nos de uma entrevista ao Eng.º Bento Castelhano (publicada no seguinte blog: http://pitamarissa.wordpress.com): "Bento Castelhano - Tive recentemente a oportunidade de conversar com o Sr. Arq.º Arsénio Raposo Cordeiro sobre este tema. Ele explicou-me, porque esteve envolvido no assunto, o motivo de o Lusitano também se chamar Puro Sangue: originalmente haviam somente dois tipos de cavalos: os de Sela ou de Sangue Quente, também designados Puros Sangue e os de Tiro, pesados, ou Sangue Frio. Dos cruzamentos destes dois tipos de cavalos nasceram os animais das raças de desporto modernas, os Warmbloods. Como o Lusitano é, indiscutivelmente uma raça de sela das mais antigas no Mundo, na sua designação ter-se-à então incluído o termo Puro Sangue, sem que daí se devesse concluir que a Raça não tinha, ao longo da sua génese, sofrido introduções ou influências de outras raças.

Recordo que tentei transmitir uma informação, o mais fielmente que fui capaz. Mas penso que, nesta ordem de ideias, o Puro Sangue tem pleno cabimento!"

Aqui fica material para a reflexão que se impõe!!!!

PSL
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Re: Epanhóis e Lusitanos.

#52 Mensagem por PSL » sábado ago 29, 2009 3:50 pm

Caro ABC,

Excelente post! Aproveitei-o para consultar o blog que referiu, e fiquei manifestamente surpreendido com a qualidade da matéria que aí encontrei!

Aproveito para reforçar a importância de uma visão de mundo para a raça Lusitana. Isto é, todos aqueles que concebem o Lusitano fora do tronco Ibérico, devem repensar os prós e contras desta postura.

Felizmente houve alguém com os horizontes muito largos, que perspectivou a existência do artigo 18.º no nosso regulamento da raça (actualmente suspenso). Este artigo possibilita-nos a possibilidade de introdução de outros indivíduos do tronco Ibérico, na raça PSL. Para muitos trata-se de heresia e perda de identidade, para outros uma oportunidade de vencer algumas limitações de uma raça fechada.

Será que os hereges não têm visão comercial e falta-lhes a veia nacionalista? Bem, trata-se efectivamente de um tema interessante e que pode ser discutido de uma forma civilizada.

Volto à questão da qualidade de membros na raça. Como é que os nacionalistas querem que uma raça que reconhecidamente tem problemas de membros, passe a apresentar membros de excelente qualidade. Como não acredito em milagres e sou sério, tenho uma certa dificuldade em entender melhoramento, sem base para tal. É exactamente o mesmo que pretender ter ovos sem galinhas.

Procurando, encontra-se no tronco Ibérico, animais com excelentes membros. Quais? Seguramente os Lipizzanos. Já o Dr. Ruy D’Andrade escrevia que em Viena, no tempo das carroças e em que apenas se utilizava o cavalo como meio de deslocação, eram os Lipizzanos os animais que menos se ressentiam com a agruras das batidas dos cascos na calçada e no chão rijo. Ultra resistentes ao trabalho em chão duro. A mim parece-me interessante esta constatação!!!!

Parece-me igualmente interessante que todos os temas que medeiam a raça possam ser tratados, abordados, e discutidos de uma forma aberta e educada.

Porque não debater este tema???

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