Santo Estêvão, 4 de Maio de 2010
Caros associados e amigos do cavalo Lusitano,
A Direcção da Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro-Sangue Lusitano (APSL) divulgou uma comunicação aos seus associados, onde legitimamente, manifesta a sua preocupação “pelo ambiente de elevada tensão que urge esclarecer e resolver”. Para tal, convoca três reuniões: uma no Sul (11 Maio - Évora), outra no centro (13 Maio - Santarém), e uma terceira no Norte do país (17 Maio - Porto). Como ordem de trabalhos salientam que querem a “sua opinião para que possamos decidir o melhor para todos”. Os dias escolhidos são dias da semana, em horário matinal (10:00h da manhã). A carta “MUITO IMPORTANTE” foi escrita no dia 29 de Abril, publicada no site da APSL no dia 3 de Maio, e aguardam resposta até ao dia 7 de Maio.
Está explícito na carta que a Direcção da APSL necessita:
1. De uma manhã de um dia de trabalho semanal dos seus associados;
2. De dividir os seus associados por três regiões do país;
3. Que os associados organizem urgentemente a sua agenda para a imprescindível comparência.
A ordem de trabalhos não é explícita, pelo que há que procurar uma leitura nas entrelinhas para vislumbrar o que a Direcção da APSL pretende dos seus associados.
Nesse contexto, há a eterna questão da transparência e comunicação, que a actual Direcção da APSL teima reiteradamente em se esquecer. Porque motivo, numa convocação desta importância e que assume este carácter de urgência, a Direcção não é explícita na ordem de trabalhos das reuniões? Se o objectivo é ouvir a opinião dos associados, não seria legítimo que os associados tomassem conhecimento, de antemão, dos assuntos a tratar, para que a opinião a emitir seja devidamente ponderada e amadurecida, conforme sugere o senso comum?
Da prática, agora recorrente, do agendamento de reuniões em diferentes partes do país advém uma preocupação da Direcção, com a importância da aproximação ao facilitismo da deslocação dos seus associados. Mas nesta preocupação, que não deixa de ter a sua importância, esquece-se de outra leitura, a da união e coesão da massa associativa! Não seria importante que os associados do Sul tomassem conhecimento do que pensam os associados do Centro e do Norte? Não seria fundamental esta acumulação de sinergias na resolução de problemas de suma gravidade? Porquê dividir? Porquê esquecer duas partes da massa associativa, no dinamismo de uma discussão pública?
Certamente que a Direcção da APSL tem muitas explicações a dar aos seus associados, relativamente aos acontecimentos que vieram recentemente a público, nomeadamente os fundamentos que levaram ao decretamento da providência cautelar que provocou o congelamento das contas bancárias da APSL, bem como aos motivos que conduziram à instauração, por parte da Direcção da APSL, de um processo disciplinar aos seus 10 associados efectivos, subscritores da carta ao Ministro da Agricultura, e a um subsequente arquivamento do processo em 8 de Fevereiro de 2010, com recomendações do Conselho Fiscal e Disciplinar, à actual Direcção da APSL (transcrição das recomendações: “I. Intervenção, com carácter de urgência, junto da entidade administrativa competente de forma a permitir a regularização das várias matérias em crise no âmbito do Stud-Book; II. Revisão integral, com carácter de urgência, dos Estatutos da Associação; III. Criação, com carácter de urgência, de mecanismos que permitam maior transparência no julgamento de animais; IV. Rigoroso cumprimento de todas as recomendações efectuadas pela Sociedade de Revisores de Contas – Albuquerque, Aragão e Associados, constante do relatório de análise às contas da Associação de 2008.”).
Porque não redigir e remeter todas essas explicações aos seus associados? Certamente que as opiniões a emitir pelos associados no decurso das reuniões, seriam mais avalizadas e fundamentadas.
No nosso entendimento, a Direcção da APSL teima em assumir uma actuação pouco transparente, permitindo nesta situação em concreto, espaço para um ambiente do “diz que disse”, entre associados e não associados. No que concerne aos associados, passam a estar divididos de acordo com a região do país. Será que a Direcção da APSL pondera a regionalização do seu formato administrativo/funcional? Ou dentro da mesma óptica, dividir o campeonato Internacional do cavalo Lusitano em três eventos, três datas, e três locais diferentes?
Num meio “ambiente de tensão” só podem existir três condimentos para a imprescindível clarividência na tomada de decisões: clareza na comunicação, informação fiável e um conveniente período de amadurecimento de ideias. Apenas com base nestes três pressupostos, se podem tomar decisões seguras e sustentáveis num futuro que se avizinha difícil. Não é credível, na condução dos destinos de um efectivo à escala Mundial, que se tomem decisões de fundo “num dia”, e que passados “dois dias”, se decida em sentido contrário. Em que crédito fica a APSL perante as associações congéneres dos outros países, ou mesmo perante a entidade que procede à homologação das decisões (Fundação Alter Real)?
Se efectivamente a Direcção da APSL pretende um debate coeso, universal, informado, e consequente, remeta de imediato a informação que quer transmitir aos seus associados, e de seguida convoque, não três, mas uma reunião, em formato de Assembleia-Geral. Que melhor dia e hora para um evento desta natureza, do que as 10:00h da manhã de um sábado?
Será fundamental não esquecer que Portugal, como centro de decisão dos destinos da raça, não pode passar ao lado das aspirações e ambições dos criadores pertencentes aos restantes países envolvidos na criação.
Como diz e bem o Presidente da AEPSL (Associação Espanhola do Puro Sangue Lusitano), Enrique Guerrero Von Wittgenstein, na carta do Presidente, divulgada na edição n.º 5 de 2009, da revista da AEPSL: “La Raza no admite trampas, trampicheos, ni manipulaciones. Exige de sus administradores respeto, aperturismo, altruismo, desinterés, magnificencia y universalidad. Solo en estes términos concebimos su progreso y consolidación. En esta ocasión me uno a todos los Asociados para expresar nuestro sentir y transmitir la opinion de nuestro colectivo”.
Só neste ambiente de macro sinergias e universalidade, poderá surgir o delineamento de directrizes capazes de projectar a raça para patamares de relevo e credibilidade Internacional.
Com os meus cumprimentos,
Domingos de Mello Giraldes Pereira de Figueiredo