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Mensagem
por Domingos Graciosa » quarta dez 03, 2008 6:45 pm
Criptorquidismo equino como uma doença do aparelho reprodutivo que pode ter consequências graves no animal afectado e na sua descedência:
O criptorquidismo consiste na descida incompleta de um ou ambos os testículos para o escroto, sua localização normal, e é uma ocorrência comum nos equinos (2 a 8% dos machos são afectados). A origem desta situação tem sido atribuída a várias causas, entre elas anomalias testiculares e desenvolvimento de aderências entre os testículos e estruturas adjacentes. Num macho normal da espécie equina a passagem dos testículos da cavidade abdominal para o escroto através do canal inguinal ocorre entre os 300 dias de gestação e os 10 dias após o nascimento.
A reprodução bem sucedida de uma espécie exige várias condições, entre elas está a eficiente produção de espermatozóides pelo macho. Nos equinos, o processo de formação de espermatozóides (espermatogénese) é um dos pontos-chave para garantir que o macho tem potencial para ser um bom garanhão.
Os testículos, ou gónadas masculinas, são os órgãos onde ocorre a espermatogénese e produção de hormonas esteróides. Nos mamíferos, a espermatogénese normal exige que os testículos se localizem na cavidade escrotal já que aí a temperatura ideal para a formação de espermatozóides é garantida (0.5 a 4-5 ºC inferior à da cavidade abdominal). Nos testículos retidos em animais criptorquídeos há consequentemente supressão térmica da espermatogénese. Embora a produção de hormonas esteróides possa ser afectada por esta condição, geralmente tal não acontece de uma forma óbvia.
A situação de criptorquidismo unilateral é a mais comum e nestes animais a fertilidade, embora afectada na sua eficiência, é mais próxima do normal já que um dos testículos é funcional. O criptorquidismo bilateral resulta em esterilidade e representa cerca de 10% dos casos. Monorquidismo (inexistência de um ou ambos os testículos) é uma patologia rara que na práctica clínica pode ser confundida com criptorquidismo, sendo necessária a exploração cirúgica da cavidade abdominal, remoção do(s) testículo(s) normal(ais) e testes hormonais para o seu diagnóstico definitivo.
Na maioria dos equinos criptorquídeos, uni ou bilaterais, a produção de testosterona pelas células de Leydig não é grandemente afectada, pelo que os caracteres sexuais secundários e o comportamento reprodutivo masculino se mantêm inalterados. Pode acontecer no entanto que estes animais sejam mais agressivos que os equinos não-criptorquídeos.
A idade do equino e localização do(s) testículos retidos (na cavidade abdominal, no canal inguinal ou no tecido subcutâneo junto ao anel inguinal externo) influenciam o tipo de lesões macro e microscópicas que estes órgãos podem apresentar. A nível macroscópico há normalmente atrofia pronunciada e aumento da consistência do tecido testicular e a nível microscópico há frequentemente hipoplasia das células da linha germinativa e, em animais idosos, fibrose das túnicas.
Na espécie equina o criptorquidismo tem uma componente hereditária dominante, pelo que os animais afectados não devem ser utilizados como reprodutores, mesmo quando um dos testículos é funcional como nos criptorquídeos unilaterais. Além dos problemas de fertilidade associados, os testículos criptorquídeos podem tornar-se neoplásicos com maior frequência, com uma maior predisposição para o desenvolvimento de teratomas, neoplasmas das células intersticiais e seminomas que podem ter efeitos devastadores para o bem-estar geral do animal, nomeadamente o desenvolvimento de metástases em órgãos das cavidades abdominal e toráccica, pelo que se recomenda a castração completa dos animais afectados. A castração pode ser efectuada por acesso inguinal, parainguinal, suprapúbico paramediano ou no flanco. Recentemente tem-se desenvolvido a castração por laparoscopia com o cavalo em estação ou em decúbito.
Sendo a definição de saúde o mais alto estado de vigor mental e físico e a de doença a de alteração a este mesmo estado, o criptorquidismo equino é uma doença ou condição patológica do aparelho reprodutivo do equino no sentido em que, como descrito, há um desvio acentuado à normalidade funcional e estrutural do(s) testículo(s) afectado(s) com consequente perda de fertilidade parcial ou total do garanhão. Ainda que o bem estar geral do animal criptorquídeo possa não sofrer alterações significativas, os testículos retidos são estéreis e como tal anormais, e nestes o tecido testicular tem um maior potencial para evoluir para tecido neoplásico podendo ter consequências graves no garanhão e na sua descendência pois, tendo o criptorquidismo uma componente hereditária dominante, a utilização de um animal criptorquídeo como reprodutor implica o perpetuamento desta situação na raça e é óbviamente desaconselhada.
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